Quase três meses de governo e começa a ser generalizada a crítica às políticas e medidas que têm vindo a ser tomadas, de todos os quadrantes e das mais insuspeitas personalidades.
Era de esperar que este governo, como os que o antecederam, colocasse as promessas do período eleitoral em banho-maria. Também era de esperar, até porque tal decorria do PEC-IV-depois-reconvertido-no-memorando-troika, aumento de impostos acompanhado por reduções de despesa.
Não há milagres e o português típico que tem responsabilidades, créditos e governa uma casa já deve ter percebido, por esta altura, que governar um país não é muito diferente e que chegámos a um ponto em que há que assumir sacrifícios e efectuar escolhas.
Este é o enquadramento de qualquer governo que assumisse a responsabilidade de nos liderar nos tempos que correm. Votando num ou em outro partido, os eleitores deram, julgo, um voto de confiança na classe política para a execução de medidas duras e de reformas que são necessárias, com um mínimo de justiça, bom senso e equidade e que, pese embora as dificuldades de curto prazo que seriam enfrentadas, lhes desse um caminho claro de desenvolvimento e saída da crise em que vivemos.
Não sei como catalogar os últimos três meses de governação. Sei no entanto que assistimos a:
- aumentos de impostos, sem atender a um mínimo de equidade fiscal e deixando determinados grupos e rendimentos fora dos sacrifícios, optando-se prioritariamente pelo IRS, mais penalizador para a classe média, quando todos sabemos os níveis de fraude e evasão que existem na tributação dos rendimentos do trabalho;
- aumento do gás, electricidade, passes sociais e custos com transportes públicos em geral;
- malabarismos na comunicação dos números da execução orçamental e da identificação dos motivos para os desvios colossais que encheram manchetes durante dias a fio;
- suspensão de projectos de investimento na generalidade, sem qualquer nexo estratégico que não o meramente economicista (ainda hoje veio a público o adiamento do regadio do Alqueva);
- avanços e recuos na educação, seja no que respeita à avaliação dos professores, seja no que se refere à reformulação da rede escolar no ensino básico;
- fim das golden shares, de direitos especiais e programa de privatizações em sectores estratégicos, que normalmente se mantêm na esfera pública na generalidade dos países, sem acautelar o interesse nacional e o estado actual dos mercados;
- demissão total do governo na definição de uma política estratégica e económica com apostas e incentivos sectoriais para dinamizar a economia.
Já se percebeu que este governo não faz a mínima ideia de como dar um rumo ao país, bem pelo contrário, cada dia que passa é um dia em que nos conduz pelas mesmas pegadas que a Grécia deixou no caminho para o abismo (já nem em relação à descida da TSU existem certezas).
Nas últimas horas, ouvimos o primeiro-ministro recusar a criação de um imposto sobre grandes fortunas (que, não sendo solução para a crise orçamental, é um imperativo pelo sinal que daria à sociedade), e o ministro da saúde dizer, textualmente, que o SNS vai racionar o número de transplantes por falta de financiamento.
Este é o exemplo acabado da sensibilidade social e sentido de justiça e equidade que este governo tem vindo a demonstrar de forma mais ou menos dissimulada.
Chegado aqui, é tempo de dizer que o prazo de validade deste melão expirou. Não foi para isto que os portugueses deram o seu voto.
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