Conforme aqui e aqui apontei, a criação da sobretaxa de IRS carecia de uma justificação plausível, a qual, quanto muito, se poderia justificar com um eventual desvio na execução orçamental de 2011.
Este cenário, mesmo sendo pouco provável dada a inspecção recente da troika às contas públicas, não seria de colocar de lado de forma liminar, atendendo à tendência (e criatividade) que qualquer governo costuma ter na hora de maquilhar os números das contas públicas.
Afinal, parece (quem leia esta notícia fica na dúvida, mas na edição em papel está preto no branco, com gráficos!) que não existe desvio e que as metas determinadas pelo governo cessante e pela troika estarão a ser cumpridas:
Parece que alguém se preparava para criar o enquadramento cénico necessário para justificar um orçamento rectificativo que permitisse aliviar o esforço de redução de despesa no segundo semestre, imprescindível para cumprir as metas de consolidação em 2011.
Já percebemos que este governo tem dedo leve quando toca a disparar na direcção de (alguns) contribuintes. E este jogo político nos últimos dias parece antecipar que a conversa de redução de despesa, da qual até agora não se passou de meros actos simbólicos, era mesmo para encher manchetes de jornais.