sexta-feira, 8 de julho de 2011

O preço


É impossível dissociar o mais recente downgrade do rating da República da crise da dívida soberana e da falta de uma solução europeia para os problemas que decorrem da actual arquitectura da união.

A conjuntura internacional em que Portugal tem vindo a penar ao longo dos últimos meses é de facto muito grave e tem vindo a piorar a cada mês.

O agravamento das condições de acesso ao crédito nos mercados internacionais, restrição que se começou a fazer sentir no ano passado, está agora a fazer-se notar de forma mais profunda, com efeitos secundários brutais ao nível da redução da actividade económica, investimento e desemprego. Se juntarmos a este cenário o esforço de consolidação orçamental preconizado no PEC IV agora PEC V e a falta de medidas e de uma estratégia clara do novo Governo para o relançamento da economia, temos os ingredientes necessários ao aprofundar da recessão para níveis nunca vistos.

Aguardo com alguma ansiedade as revisões das projecções para a evolução do PIB em 2011 e 2012, as quais devem evidenciar o pior dos cenários.

Internamente, há que registar o tom concordante com que se manifestam alguns quadrantes da sociedade desde há um mês para cá, a crise externa afinal sempre existia e as agências de rating passaram a ser criticáveis.

A evolução política é notória... É de lamentar que tenha sido necessário chegar a este ponto para que a horde de comentadores, jornalistas e políticos, encabeçada pelo Presidente da República, que se entreteu durante meses a fio a criar as condições para a queda do anterior Governo, venha agora demonstrar o espanto, a indignação e a solidariedade que faltaram ainda há pouco tempo atrás. O interesse nacional afinal não é um mito, depende apenas da cor dos figurantes que ocupam S. Bento.

O PEC IV foi chumbado por puro cálculo político há cerca de três meses. Hoje, a então oposição agora Governo convive alegremente com um face lift desse programa, o PEC V, que inclui medidas muito mais gravosas e um imposto extraordinário que nasceu há pouco mais de uma semana de forma que ainda está por explicar (extraordinário duplamente). Afinal podiam-se pedir mais sacrifícios aos portugueses...

Depois de meses de desgaste e na pior altura possível, o país viu-se mergulhado numa crise política de todo dispensável e sem quaisquer fundamentos. Prescindimos de um pacote de ajuda apoiado pela União Europeia por uma mão cheia de nada, o país parou durante três meses, o rating da dívida pública foi cortado várias vezes, e fomos a eleições quando o que se exigia era acção e determinação na aplicação das medidas negociadas e acordadas no PEC IV.

Este novo downgrade não é mais que o preço que vamos pagar por alguns, a começar pelo PR, terem escolhido politiquice em vez de interesse nacional. Os mesmos que negaram até há pouco tempo a dimensão da crise e que querem fazer-nos crer que medidas avulso como a redução da TSU são a solução.

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