quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Exorcismos

Fernando Sobral aponta o dedo às deficiências deste Governo: falta de rumo / estratégia para animar a economia, deriva em alguns ministérios-chave, os aumentos de impostos consecutivos, o andar a reboque, de forma passiva, de variáveis que dependem pouco da acção do Governo (que, no caso da diplomacia económica, parece ter deixado de existir), a complacência com a Madeira.

Um bom resumo do estado da nação.

O de Passos Coelho começa a ser reconhecido pelos defeitos especiais. Já nem se fala da actividade incógnita de Álvaro Santos Pereira, cujo ministério é tão grande que leva a que o ministro se perca nos seus corredores. Nem da transformação do Ministério das Finanças em ministério dos Impostos. Fala-se dos demónios escondidos que, se não forem objectos de exorcismo, poderão transformar-se num filme de vampiros esfomeados. Um desses demónios é a Madeira, onde o Governo acode como o 112 de auxílio a João Jardim, enquanto Paulo Portas se encarrega de pedir diligentemente a remoção do homem. Quem vencerá: o Governo de que faz parte o PP, ou Paulo Portas? Sobre o cabaz de impostos de Vítor Gaspar já nem se fala. Como é que um partido militantemente contra o saque fiscal, como é o PP, consegue engolir os sapos que fazem parte do menu das Finanças? As militantes vénias de Passos Coelho sobre as "eurobonds" junto da senhora Merkel também não ajudam a libertar os demónios.

O Governo poderá estar a tentar transformar-se numa versão moderna do filme "O Exorcista".

Ou o PSD pode estar à espera que o PS faça a sua cura de nojo após espantar o espírito de José Sócrates para longe. Mas, seja como for, crescer é o melhor antídoto para a dívida. E sobre isso que não se fala. É isso que está a ser posto em causa por um tufão de impostos enquanto se espera que a Alemanha e os EUA cresçam para irmos à boleia.

Os barulhos estranhos e os movimentos inexplicáveis deste Governo começam a precisar de uma agenda. Que seja perceptível.

Islândia: case study?

Não me parece, quaisquer semelhanças com o caso nacional, para lá da necessidade de se recorrer ao FMI, parecem ser mais obra do acaso que outra coisa.

Para quem não se recorda, a crise islandesa teve a sua génese na alavancagem acentuada da economia, sobretudo com recurso a empréstimos em moeda estrangeira, e da crise de confiança que tomou conta dos mercados financeiros na sequência do subprime americano.

Há um conjunto de dados interessantes na notícia que linkei acima que enquadram o remédio prescrito, os quais passaram pela introdução de medidas de controlo de capitais com vista a impedir a retirada massiva de fundos para o estrangeiro, associado a um aumento brutal das taxas de juro, que subiram até 18% (hoje em 4,5%), para lá da nega ao bailout dos bancos, e a redução do nível de vida de 40% "da noite para o dia" na sequência da crise cambial.

É fácil de ver que não só o problema era distinto como os mecanismos de combate utilizados não estão disponíveis em Portugal, por não termos uma política cambial e monetária autónomas.

Com a economia estabilizada e a sair da recessão (espera-se um crescimento económico em 2011 depois de 3 anos de recessão), o membro do banco nacional que é citado refere que vão agora pensar em como resolver o problema da alavancagem excessiva dos particulares e da desconfiança dos mercados (natural depois das perdas que tiveram de assumir), contando também para o efeito com uma ajuda extra do FMI, que flexibilizou o esforço de consolidação orçamental exigido para este ano.

A notícia aprofunda pouco mais os motivos para a recuperação, para lá de uma referência ao défice externo, que se reduziu de forma substancial. Os problemas esses, parecem ser sempre os mesmos: crescimento, défices orçamentais, alavancagem excessiva... onde é que já ouvi isto? E com um défice orçamental na ordem dos 4,4% para 2011, que não parece muito longe dos 5,6% previstos em Portugal, onde pára a austeridade islandesa?

Eu garanto!

Com todo o respeito, não consegui deixar de sorrir e pensar nuns sketches dos Gato Fedorento quando li sobre as certezas do ministro das finanças relativamente à possibilidade de voltarmos a financiar-nos nos mercados internacionais em 2013.

Enfim, faço votos para que assim seja.

Para entreter até chegarmos a 2013, aqui fica a contribuição do dia!




terça-feira, 6 de setembro de 2011

A história repete-se?

Krugman, Stiglitz, agora Roubini, entre outros, engrossam a lista dos académicos que regularmente clamam contra as políticas económicas seguidas pela zona euro e, sobretudo, contra as medidas de austeridade draconianas que foram receitadas aos pacientes que tiveram de solicitar ajuda ao FEEF / FMI.

Inicialmente, estas medidas foram vendidas sob a justificação de que contribuiriam para o (i) aumento da confiança dos mercados na capacidade de pagamento dos países incumpridores, e (ii) por via das medidas de liberalização do mercado de trabalho, privatização de entidades públicas e criação de condições de maior competitividade, tornariam o estado mais eficiente e fomentariam o crescimento económico, via libertação de recursos do público para o privado.

Julgo que, essencialmente, é isto que uma série de políticos, a começar pelos que têm a responsabilidade de justificar os apoios que dão aos países incumpridores perante a opinião pública local, têm defendido. E percebe-se porquê, enquanto a economia não dava sinais de anemia, dificilmente se conseguia justificar apoios a países que não fizeram o trabalho de casa no devido tempo.

Agora que os sinais de abrandamento económico se propagam, temos entidades insuspeitas como o FMI e a ONU(!) a alertar para os riscos da manutenção da austeridade, e vemos o exemplo grego como a austeridade implica mais recessão e o afundar da economia, existe algum movimento visível para os lados de Bruxelas no sentido de se criarem mecanismos de financiamento que introduzam alguma racionalidade nos mercados e permitam aos países em dificuldade manter algumas políticas de dinamização económica.

Já a obstinação do governo português em prosseguir uma via de austeridade ainda mais dura que a receitada por quem nos financia causa-me alguma perplexidade. Não discuto que há que reavaliar projectos, reanalisar o âmbito dos serviços assegurados pelo Estado ou reequacionar o espectro de intervenção do Estado na economia. Já a paragem pura e simples de qualquer projecto que mexa sem qualquer justificação que não a financeira é uma aberração.

Na última semana, lembro-me assim de repente da paragem do projecto de requalificação do arco ribeirinho (margem sul do Tejo), da suspensão / dilação da conclusão do projecto de regadio do Alqueva e agora da suspensão do programa de requalificação das escolas.

Qual é o objectivo deste governo em termos de dinamização económica? Parar tudo o que seja investimento público? Acreditar que os privados vão investir que nem uns loucos com a quantidade de medidas amigas do investimento que têm sido lançadas e quem em 2012 ou 2013, consoante a fonte governamental, teremos um crescimento de causar inveja aos alemães?

Estamos cada vez mais perto da insolvência e de entregar as chaves aos credores que nunca. A história, pelos vistos, repete-se, e, nos últimos tempos, a nossa é demasiado parecida com a grega para podermos assistir impávidos à prescrição de receitas que matam o doente.

Reflexo dos tempos


Câmbio mínimo de 1,20CHF por euro. A reacção automática foi uma desvalorização brutal do franco suíço face às principais moedas (euro e dólar).

Depois de taxas de juro a 0% e da criação do peg ao euro, não sobram muitas mais armas ao arsenal do banco nacional suíço para aguentar a moeda.

Vamos ver se o fluxo de capitais "colossal" para o cofre-forte da Europa se vai estancar. Não creio que assim seja, existe muita ansiedade entre os investidores e mesmo particulares com algumas posses tentam colocá-las a salvo, pagando para o efeito se assim for preciso (há algumas semanas deram-me nota de bancos que já praticavam taxas de remuneração negativas).

A Suíça arrisca-se a ser um "dano colateral" da crise da dívida soberana e da ausência de respostas institucionais da União Europeia em tempo útil.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Luz ao fundo do túnel?

Ou será apenas o comboio??

A afirmação da senhora Merkel que a Reuters transcreve parece-me fundamental e esclarecedora sobre até onde a Alemanha estará disposta a ir para proteger o Euro.

Li algures que, antes de avançar para medidas estruturais, a Alemanha está a tentar que os países incumpridores limpem a casa, por conta do aperto financeiro. Será mesmo "apenas" isso? Ou o objectivo é deixar alguém pelo caminho antes de refundar a UE?
05.09.2011 - 16:59 Por PÚBLICO

A chanceler alemã, Angela Merkel, disse esta segunda-feira não esperar que algum país abandone a zona euro, alertado que tal acontecimento poderia provocar uma reacção em cadeia.

“Do ponto de vista técnico e legal não há qualquer possibilidade [de um Estado-membro abandonar a zona euro]. Mas não estou sequer a pensar nessa hipótese porque isso poderia desencadear um efeito dominó que seria extremamente perigoso para o nosso sistema monetário”, afirmou Merkel em conferência de imprensa, citada pela agência Reuters.(...)

Troika & Banca

Uma notícia esperada, como é de esperar também que nada seja identificado que coloque em causa os resultados dos testes de stress e das auditorias regulares a que o sistema bancário está sujeito, tanto por auditores externos como pelo Banco de Portugal.

Qualquer outra conclusão será deveras preocupante e com efeitos imprevisíveis. A uma crise económica, financeira, e a ameaças de abrandamento internacional, só falta mesmo juntar a descredibilização do sistema bancário nacional e dos supervisores para compor o ramalhete da tempestade perfeita.

Sendo o caso, não há bom clima e gastronomia que nos valha.

Síntese de três meses de governo by Pedro Marques Lopes

Imperdível.


"Tenho um pedido a fazer aos membros deste Governo: não anunciem mais planos de redução da despesa.

Prometo esquecer-me da famosa proclamação do primeiro-ministro, aquela em que Passos Coelho dizia existirem dois caminhos para a solução do problema do défice: reduzir a despesa ou aumentar impostos, sendo a dos socialistas a segunda e a dele a primeira. Vou varrer da minha memória as afirmações grandiloquentes de actuais responsáveis governamentais, que juravam a pés juntos haver um plano detalhado para o corte nos gastos supérfluos do Estado.

Assobiarei para o lado quando me recordarem as palavras do primeiro-ministro no Pontal, quando assegurava que até dia 31 de Agosto o grande plano ia ser apresentado e até Outubro estaria executado. Fingirei que não percebo nada de aritmética quando me falarem de um terço para isto e dois terços para aquilo. Estou disposto a jurar que quando Passos Coelho disse que seria intransigente na questão das deduções dos gastos em educação, habitação e saúde em sede de IRS e jamais as aprovaria, foi mal interpretado e não era isso exactamente que queria dizer. Quando Paulo Portas aparecer na televisão, vou só concentrar-me nas suas tarefas de ministro de Negócios Estrangeiros e não matutarei no esbulho fiscal que estava em marcha há uns meses. Vou deitar fora o livrinho do Álvaro, o ministro, para não ler o que ele escrevia sobre aumentos de impostos e a facilidade com que se ia cortar na despesa. "Cortes históricos" e "maior redução da despesa dos últimos cinquenta anos" são frases que não utilizarei. Sempre que ouvir falar em gordura, direi que desta vez vou mesmo emagrecer.

Não voltarei a perguntar onde é que afinal está o desvio colossal (o tal que existe mas ninguém diz onde) e desprezarei essa inutilidade chamada boletim de execução orçamental, que teima em malevolamente mostrar que até Junho a despesa desceu e a partir dessa data desatou a subir.

Estou disposto a isto tudo mas, por favor, não anunciem que neste ou naquele dia vão apresentar medidas de corte na despesa. É que é certo e sabido que vem aí um anúncio de mais impostos, o fim de deduções fiscais ou uma subida de preços.

Se esta minha amnésia auto-infligida não for suficiente, posso mesmo controlar-me e não rir às gargalhadas quando o ministro das Finanças voltar a dizer que um aumento de impostos é um exercício de solidariedade, achar normal que o documento de estratégia orçamental não dedique uma palavrinha que seja sobre incentivos ao investimento das empresas - a não ser que se considere o aumento de impostos uma medida potenciadora de mais investimento - ou como diabo se vai pôr a economia a crescer.

Sou capaz de respirar fundo quando pela milionésima vez se ceder às chantagens e desmandos de Alberto João Jardim, achar que os onze grupos de trabalho criados em dez semanas de governação são mesmo necessários - sobretudo os três dedicados ao futebol - ou engolir em seco ao ouvir o ministro para tudo e mais alguma coisa, Miguel Relvas dizer que vai antecipar o pagamento das dívidas da RTP para a poder entregar de boa saúde, sem ónus ou encargos, às dezenas de empresas que, com certeza, acorrerão ao concurso de privatização.

Receio, porém, que estas minhas promessas todas não sejam suficientes. Dia 15 de Outubro vai ser apresentado o Orçamento do Estado para 2012, e nessa altura vamos saber dos cortes, ou seja, é muito provável que surjam mais impostos. Talvez um imposto sobre os gordos, pois de forma evidente não estão a praticar a austeridade. Outro sobre os que tomam banho todos os dias, essa gente que desperdiça água. Até tenho medo de dar ideias, mas estou convencido de que não faltará imaginação ao Governo. Ou então pode ser que nos digam que interpretamos mal as palavras gordura e consumos intermédios. Gordura era assim como dizer salários, consumos intermédios era outra maneira de se falar em pensões, e será aí que irão ser feitos os cortes. É que só faltava mesmo essa.

Desviar as atenções (3)

Quando já não se sabe o que inventar para esconder os aumentos de impostos e as promessas falhadas, aparece o bombo habitual para distrair as massas.

Ficamos a aguardar os desenvolvimentos...

Investigadas contas da família Sócrates

Desviar as atenções (2)

Algumas semanas depois, confirma-se que o truque das facturas do IDP não passa disso mesmo, uma manobra para desviar as atenções do que interessa.
As 687 facturas que o ministro Adjunto e dos Assuntos Parlamentares, Miguel Relvas, disse terem sido encontradas no Instituto do Desporto de Portugal (IDP), eram afinal apenas 40. O i soube, junto de fonte próxima do processo, que as 687 facturas referidas pelo ministro estão todas pagas, não existia nenhuma sala fechada e que as facturas por pagar são apenas 40. Estas não estarão pagas porque estavam em processo de auditoria, por levantarem dúvidas.
Politiquice da mais reles ou apenas incompetência? Três assessores e um ministro para realizar este número, o contribuinte paga.

sábado, 3 de setembro de 2011

Demissão

Julgo que já foram demitidos ministros por muito menos. Isto é grave, demasiado grave para não merecer a crítica generalizada de qualquer português que utilize o serviço nacional de saúde.

Só alguém que tem acesso à saúde privada pode dizer que podemos não ter meios para manter os níveis de transplantes no sns. Ninguém me convence que é impossível cortar em outras áreas antes de brincarem com a vida de pessoas, isto é um insulto.

Este melão está podre

Quase três meses de governo e começa a ser generalizada a crítica às políticas e medidas que têm vindo a ser tomadas, de todos os quadrantes e das mais insuspeitas personalidades.

Era de esperar que este governo, como os que o antecederam, colocasse as promessas do período eleitoral em banho-maria. Também era de esperar, até porque tal decorria do PEC-IV-depois-reconvertido-no-memorando-troika, aumento de impostos acompanhado por reduções de despesa.

Não há milagres e o português típico que tem responsabilidades, créditos e governa uma casa já deve ter percebido, por esta altura, que governar um país não é muito diferente e que chegámos a um ponto em que há que assumir sacrifícios e efectuar escolhas.

Este é o enquadramento de qualquer governo que assumisse a responsabilidade de nos liderar nos tempos que correm. Votando num ou em outro partido, os eleitores deram, julgo, um voto de confiança na classe política para a execução de medidas duras e de reformas que são necessárias, com um mínimo de justiça, bom senso e equidade e que, pese embora as dificuldades de curto prazo que seriam enfrentadas, lhes desse um caminho claro de desenvolvimento e saída da crise em que vivemos.

Não sei como catalogar os últimos três meses de governação. Sei no entanto que assistimos a:
  • aumentos de impostos, sem atender a um mínimo de equidade fiscal e deixando determinados grupos e rendimentos fora dos sacrifícios, optando-se prioritariamente pelo IRS, mais penalizador para a classe média, quando todos sabemos os níveis de fraude e evasão que existem na tributação dos rendimentos do trabalho;
  • aumento do gás, electricidade, passes sociais e custos com transportes públicos em geral;
  • malabarismos na comunicação dos números da execução orçamental e da identificação dos motivos para os desvios colossais que encheram manchetes durante dias a fio;
  • suspensão de projectos de investimento na generalidade, sem qualquer nexo estratégico que não o meramente economicista (ainda hoje veio a público o adiamento do regadio do Alqueva);
  • avanços e recuos na educação, seja no que respeita à avaliação dos professores, seja no que se refere à reformulação da rede escolar no ensino básico;
  • fim das golden shares, de direitos especiais e programa de privatizações em sectores estratégicos, que normalmente se mantêm na esfera pública na generalidade dos países, sem acautelar o interesse nacional e o estado actual dos mercados;
  • demissão total do governo na definição de uma política estratégica e económica com apostas e incentivos sectoriais para dinamizar a economia.
Já se percebeu que este governo não faz a mínima ideia de como dar um rumo ao país, bem pelo contrário, cada dia que passa é um dia em que nos conduz pelas mesmas pegadas que a Grécia deixou no caminho para o abismo (já nem em relação à descida da TSU existem certezas).

Nas últimas horas, ouvimos o primeiro-ministro recusar a criação de um imposto sobre grandes fortunas (que, não sendo solução para a crise orçamental, é um imperativo pelo sinal que daria à sociedade), e o ministro da saúde dizer, textualmente, que o SNS vai racionar o número de transplantes por falta de financiamento.

Este é o exemplo acabado da sensibilidade social e sentido de justiça e equidade que este governo tem vindo a demonstrar de forma mais ou menos dissimulada.

Chegado aqui, é tempo de dizer que o prazo de validade deste melão expirou. Não foi para isto que os portugueses deram o seu voto.

Conversa na mesa ao lado...

Vasco Graça Moura - Graça Moura diz que aumento de impostos é “incomportável sacrifício"

Paulo Mendo - Paulo Mendo critica cortes e espera "desgraça futura" na saúde

Manuela Ferreira Leite - Ferreira Leite ataca política fiscal do Governo, in Expresso 03.09.2011

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Futuro negro


Crise orçamental => Pacote de ajuda => Austeridade => Recessão agravada => Queda maior que o esperado do PIB => Menos impostos => Défice dispara => Crise orçamental (voltar ao início)

Simples, só não vê quem não quer e prefere continuar a acreditar no ilusionismo liberal.

Ler a propósito o João Galamba aqui.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Mais um da série "apoios sociais ou o buraco negro"

Se hoje em dia já existem declarações de IRS pré-preenchidas, o que impede a contabilização dos apoios sociais aos contribuintes que deles usufruem, como já aqui escrevi?

Hoje foi o dia das tarifas de gás e electricidade especiais, ontem o dos passes sociais com desconto, amanhã não sei o que vão inventar mas alguma alma surgirá com uma ideia brilhante.

Só sei que os meios para efectuar este controlo já devem existir e que o mesmo é essencial.

Há que saber para onde são canalizados os sacrifícios que nos estão a pedir, nem que seja para termos todos a certeza que os apoios são direccionados de forma certeira para suprir necessidades efectivas e para quem precisa deles.

A lista enunciada na notícia do JN refere que beneficiarão desta tarifa um conjunto alargado de contribuintes, baptizados de “economicamente vulneráveis”, incluindo os beneficiários do complemento solidário para idosos, do rendimento social de inserção, do subsídio social de desemprego, do primeiro escalão do abono de família e da pensão social de invalidez.

Conhecemos os níveis de fraude que existem na atribuição de subsídios. Mais um para ajudar à festa?

Momento hilariante do dia

Que comedidos que os sindicatos estão...
Está tudo louco.
Sindicatos da UGT reivindicam aumentos de 2% a 3% em 2012
01 Setembro 2011 | 16:56

Austeridade política condiciona política reivindicativa da central sindical, reconheceu João Proença.

Os sindicatos da UGT vão pedir aumentos salariais de 2% a 3% para 2012 em negociação colectiva, afirmou hoje o líder da central sindical, João Proença (na foto).

As metas definidas pela UGT são mais baixas do que em anos anteriores, reconheceu o próprio secretário-geral, em conferência de imprensa.

Temos presente as dificuldades do país. Os rendimentos dos trabalhadores da
Administração Pública e dos pensionistas serão congelados e isso condiciona a politica reivindicativa da própria central”, afirmou João Proença.
 

A sardinhada causou-me azia...

Não percebo, anos e anos de investigações e manchetes dão, invariavelmente, nisto.

Vale a pena dizer o óbvio? Que é mais uma vergonha a que temos de assistir impotentes?? Até quando???


Processo do BdP contra antigos gestores do BCP em risco de ser anulado

Geografia baralhada!

As semelhanças entre o desnorte deste Governo e o consumo de sardinha assada são mais que muitas, ora confira na reportagem a seguir, a não perder!!

Com a geografia baralhada: sardinha assada

Em Setúbal, gostam dela mais pequena, por isso mandam a que pescam para Lisboa e vão comprá-la à Nazaré. Confusos? Os portugueses adoram sardinha assada, mas esta parece ter a geografia trocada. E se este ano ainda não engordou, a culpa será do clima... e dos espanhóis.

Titanic

Estamos à deriva e prestes a ir ao fundo se continuarmos assim.

Um resumo interessante sobre a estratégia orçamental que nos foi presenteada ontem.

Como comentei no post, falta uma “estratégia de crescimento económico” no programa de Governo, alguém que pense o país como um todo e menos contas de merceeiro nos ministérios.

Ideologia

Este snapshot do Jornal de Negócios é todo um programa político e realmente dá que pensar.


Para lá da originalidade de, mais uma vez, o ministro das finanças aparecer sozinho a dar as más notícias, vale a pena parar um bocado para percebermos como a ideologia molda as opções políticas deste governo.

De há pouco mais de dois meses para cá, tivemos vários anúncios de aumento de impostos e de preços em áreas chave (energia, transportes) os quais vão incidir, na sua esmagadora maioria, em titulares de rendimentos de trabalho dependente e, no lado dos impostos indirectos, sobre o consumo.

Se é certo que temos um problema estrutural com a falta de crescimento económico sustentado, também é verdade que o problema mais urgente que se coloca à economia tem a ver com o acesso a fontes de financiamento.

Percebo por isso que não há espaço para não cumprir com as metas orçamentais previstas (a relutância de certos países em apoiar o segundo pacote de ajuda à Grécia é um aviso) e que, igualmente, há que criar condições para atrair investimento ou, pelo menos manter o que existe, evitando deslocalizações e fugas de capitais para o estrangeiro.

É assim natural que a consolidação (que já se percebeu que vai ser feita pelo lado dos impostos porque reduzir despesa é complicado, já chega de tangas) implique aumento de impostos sobre o consumo e daqueles que, incidindo sobre o rendimento, são menos penalizadores para os capitais.

O problema e a injustiça gritantes nascem quando, por conta deste enquadramento, esquece-se que existe uma franja substancial de contribuintes com património e rendimentos que são excluídos da chamada à cabine de som da solidariedade.

É o que acontece com titulares de imóveis, rendimentos prediais e de capitais, incluindo mais-valias, ou de rendimentos em que existe notória fuga ao fisco (trabalhadores independentes e sectores de actividade com evasão crónica), que são objectivamente beneficiados.

Compreendendo que algumas opções são necessárias e que existe uma necessidade imperativa de impedir a fuga de capitais e propiciar / não piorar o enquadramento fiscal para quem quer investir, a teimosia que está a levar este governo a escolher sempre o bolso dos mesmos (trabalhadores dependentes) vai conduzir, inevitavelmente, à contestação social.

O Presidente da República já veio a terreiro dar uma pista importante, a reintrodução do imposto sobre sucessões e doações. É injusto tributar duplamente o rendimento? É. Mas neste enquadramento, são muito mais chocantes os aumentos consecutivos de IRS que exigir a quem nunca trabalhou uma contribuição pelo aumento automático do património sem um pingo de esforço.

A frase em destaque da notícia acima é portanto uma falácia. Não precisamos de fortunas, precisamos sim de empreendedorismo e de quem queira investir. E existindo titulares de património e meios que vivem, basicamente, por conta de rendimentos de capitais ou de imóveis, o mais justo neste enquadramento é ir-lhes ao bolso, da mesma forma que vão ao meu.

A sangue frio

Já não me enganam mais.

Uma vez, duas vezes, três vezes em que se anunciam cortes e saí-nos na rifa um aumento de impostos.

Da próxima vez que ouvirem falar em anúncios de cortes de despesa corram à farmácia para repor o stock de vaselina.