terça-feira, 6 de setembro de 2011

A história repete-se?

Krugman, Stiglitz, agora Roubini, entre outros, engrossam a lista dos académicos que regularmente clamam contra as políticas económicas seguidas pela zona euro e, sobretudo, contra as medidas de austeridade draconianas que foram receitadas aos pacientes que tiveram de solicitar ajuda ao FEEF / FMI.

Inicialmente, estas medidas foram vendidas sob a justificação de que contribuiriam para o (i) aumento da confiança dos mercados na capacidade de pagamento dos países incumpridores, e (ii) por via das medidas de liberalização do mercado de trabalho, privatização de entidades públicas e criação de condições de maior competitividade, tornariam o estado mais eficiente e fomentariam o crescimento económico, via libertação de recursos do público para o privado.

Julgo que, essencialmente, é isto que uma série de políticos, a começar pelos que têm a responsabilidade de justificar os apoios que dão aos países incumpridores perante a opinião pública local, têm defendido. E percebe-se porquê, enquanto a economia não dava sinais de anemia, dificilmente se conseguia justificar apoios a países que não fizeram o trabalho de casa no devido tempo.

Agora que os sinais de abrandamento económico se propagam, temos entidades insuspeitas como o FMI e a ONU(!) a alertar para os riscos da manutenção da austeridade, e vemos o exemplo grego como a austeridade implica mais recessão e o afundar da economia, existe algum movimento visível para os lados de Bruxelas no sentido de se criarem mecanismos de financiamento que introduzam alguma racionalidade nos mercados e permitam aos países em dificuldade manter algumas políticas de dinamização económica.

Já a obstinação do governo português em prosseguir uma via de austeridade ainda mais dura que a receitada por quem nos financia causa-me alguma perplexidade. Não discuto que há que reavaliar projectos, reanalisar o âmbito dos serviços assegurados pelo Estado ou reequacionar o espectro de intervenção do Estado na economia. Já a paragem pura e simples de qualquer projecto que mexa sem qualquer justificação que não a financeira é uma aberração.

Na última semana, lembro-me assim de repente da paragem do projecto de requalificação do arco ribeirinho (margem sul do Tejo), da suspensão / dilação da conclusão do projecto de regadio do Alqueva e agora da suspensão do programa de requalificação das escolas.

Qual é o objectivo deste governo em termos de dinamização económica? Parar tudo o que seja investimento público? Acreditar que os privados vão investir que nem uns loucos com a quantidade de medidas amigas do investimento que têm sido lançadas e quem em 2012 ou 2013, consoante a fonte governamental, teremos um crescimento de causar inveja aos alemães?

Estamos cada vez mais perto da insolvência e de entregar as chaves aos credores que nunca. A história, pelos vistos, repete-se, e, nos últimos tempos, a nossa é demasiado parecida com a grega para podermos assistir impávidos à prescrição de receitas que matam o doente.

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